Pousada A Capela coleciona e vende arte popular

A loja Coisas da Ninoca funciona dentro da pousada e vende peças de artesanato e arte popular garimpadas em todo Nordeste

Há 12 anos, desde quando foi inaugurada, a Pousada A Capela procura oferecer conforto, aconchego e experiências marcantes para seus hóspedes. A decoração dos espaços faz parte dessa missão. Desde 2014, quando se encantaram e se inspiraram com uma vibrante coleção de arte contemporânea existente dentro de um hotel luxo de Buenos Aires, as sócias Claudia Giudice e Nil Pereira iniciaram a pesquisa e curadoria de compra de peças arte popular, a maioria brasileira.

Nascia assim a identidade visual da Capela, que por todos os cantos guarda peças (a maioria únicas) dos principais artistas naifs. “Sempre gostei de arte popular. Na minha primeira viagem à Bahia fiquei boquiaberta com a coleção criada pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi para o Museu de Arte Moderna, MAM da Bahia. Minha primeira peça foi um burrico que comprei nos anos 1980 em Tracunhaém, Pernambuco. Iniciamos seriamente a coleção de modo inusitado, durante uma viagem à São Francisco, nos Estados Unidos, quando vimos em uma galeria de arte duas peças de barro mexicanas. Foi amor à primeira vista”, conta Claudia Giudice, que exibe até hoje as obras – uma árvore da vida e uma pilha de cachorros coloridos da Família Ortega – na estante principal da sala de estar. “Pedra de fundação”, elas não estão à venda mas foram o mote para inúmeras outras viagens pelo país e também pelo México.

Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Minas Gerais são os estados com maior produção e fama. “Viajamos para conhecer os artistas, aprender e fazer compras. Cada peça tem uma história. Cada lugar que conhecemos revela um pouco da riqueza e da pobreza do nosso país. No Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, por exemplo, até pouco tempo, os trabalhos eram feitos só por mulheres. Elas ficavam cuidando da casa, da família enquanto os homens partiam para outros lugares em busca de trabalho e dinheiro. As esculturas de barro de mulheres vestidas de noiva, mulheres grávidas ou mulheres embalando os seus bebês “contam” essa história de luta e dificuldade do Vale de modo belo e surpreendente”, explica Claudia.

A decoração diferente e colorida chamou a atenção dos hóspedes, que começaram a perguntar sobre os objetos e desejar comprá-los. Nasceu assim a loja Coisas da Ninoca, cujo nome é uma homenagem à produtora de eventos Nil Pereira, que no início aproveitou o ensejo para vender objetos de decoração de seu acervo de festas. Localizada na área do estacionamento da pousada, ela está aberta para visitantes e para os hóspedes. Dentro da hospedagem, várias peças estão à venda também. “Apenas alguns objetos são invendáveis porque fazem parte da nossa coleção ou porque ainda temos muito apego”, conta Nil. Quando alguém deseja algo que ela “ama muito”, o preço pode subir à lua. “Mas se o cliente aceitar o leilão, ele leva”, garante ela, rindo.

A coleção tem de tudo. Desde peças pequenas e baratinhas para enfeitar a geladeira até esculturas caras e monumentais. O critério da curadoria é a beleza, o inusitado e a hihttps://redeartesol.org.br/rede/jose-alves/stória que o objeto contém em si próprio. Os artistas de Capela, Alagoas, estão bem representados por João das Alagoas, Sil, Nena e Leo Arcanjo. Do Vale do Jequitinhonha, obras das artistas de Campo Alegre e Coqueiro Campo e das mestras Zezinha e Rita Gomes Ferreira. Do Pernambuco, a Ninoca tem uma seleção de mestres que parece time de futubol. José Alves, Ademilson Eudócio, Mestre Fida, Nuca, Neguinha, Cida Lima entre tantos. Idem para as Alagoas que é berço do talento da família Marinheira, dos artistas de Capela, de Zezinho de Arapiraca, Marcos de Sertânia, criador da cachorra Baleia, e de todos os gênios da Ilha do Ferro. “A Ilha do Ferro, localizada às margens do Rio São Francisco, é um lugar mágico. Lindo. O bordado Boa Noite feita pelas mulheres e as artes feitas com a madeira recolhida no sertão que mora ao lado do Velho Chico representam um universo simbólico único e colorido”, acrescenta Claudia. O acervo da Ninoca conta com várias peças de artistas famosos como Vavan, Petrônio, Berardo, Zé Crente, Boró e os novatos Jailton e Jamile.

A loja Coisas da Ninoca funciona diariamente das 9 horas da manhã até 21 horas. Quem quiser conhecê-la pode ligar e agendar uma visita (11 99653-6209) ou apenas chegar na Capela se não for final de semana. No instagram @coisasdaninoca_artepopular tem sempre sugestões e novidades. Vale a pena visitar. Vale a pena se encantar.

 

Compartilhe esta publicação: